Nem sempre a gengiva se retrai por causa da escovação. Ela pode estar revelando outros sinais do corpo, da ansiedade ao refluxo.

Introdução
Você já percebeu que seus dentes parecem “mais compridos” do que antes?
Esse pode ser um sinal de recessão gengival — quando o tecido que recobre o dente se retrai e expõe parte da raiz.
Embora muita gente associe isso apenas à escovação forte, a ciência mostra que a gengiva pode se retrair por múltiplos fatores, muitos deles ligados à saúde geral e ao equilíbrio do organismo.

1️⃣ O que é recessão gengival
A recessão gengival ocorre quando o tecido gengival se desloca para a raiz do dente, deixando-a exposta.
Isso pode causar sensibilidade, acúmulo de placa, risco de cárie radicular e impacto estético.
Mas o mais importante é entender que a gengiva é um tecido vivo e responde às condições do corpo como um todo — emocionais, mecânicas e metabólicas.

2️⃣ Ansiedade e bruxismo: a força invisível que empurra a gengiva para baixo
Estudos mostram que ansiedade e estresse estão entre as causas mais frequentes de bruxismo — o hábito inconsciente de apertar ou ranger os dentes (acordado/vigília ou durante o sono).
Segundo revisão publicada no Journal of Oral Rehabilitation (Manfredini et al., 2010), o bruxismo está fortemente associado a distúrbios de ansiedade e tensão emocional.
Essa sobrecarga mecânica contínua nos dentes e no periodonto pode gerar microtraumas, que com o tempo levam à reabsorção óssea e retração gengival localizada.

➡️ Em outras palavras: quando a mente não descansa, a gengiva sofre.

3️⃣ Refluxo e erosão ácida: o inimigo silencioso do esmalte e da gengiva
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é outra condição sistêmica com reflexos claros na boca.

O ácido do estômago, ao subir, atinge as superfícies internas dos dentes, dissolvendo o esmalte e irritando os tecidos gengivais.

Revisões (Zero et al., J Dent Res 2006; Bartlett et al., J Dent 2011) mostram que pacientes com refluxo têm maior prevalência de erosão dentária e inflamação gengival crônica.
A inflamação constante pode enfraquecer as fibras de sustentação da gengiva e favorecer sua migração/retração.

4️⃣ Escovação traumática: quando o excesso de zelo causa danos
O uso de escovas duras e força excessiva na escovação é um dos motivos mais comuns de recessão.
Estudos clínicos mostram que pressão acima de 150 g já é suficiente para causar retração em áreas de esmalte fino.
Por isso, é importante receber uma correta orientação sobre higiene bucal tanto quanto ao tipo de escova melhor indicado para o seu tipo de gengiva, quanto ao modo de escovar e utilizar o fio dental.

5️⃣ Perda óssea e saúde periodontal
A recessão gengival também pode ser sinal de doença periodontal — uma inflamação que destrói o osso e o ligamento que sustentam o dente.
Essa condição está associada a doenças sistêmicas como diabetes e alterações cardiovasculares.
Estudos (Cochrane, 2015) mostram que tratar a periodontite em diabéticos reduz discretamente a Hemoglobina Glicada, reforçando o elo entre gengiva e metabolismo.
Ou seja: quando há perda óssea, a gengiva se retrai e o corpo inteiro pede atenção.

6️⃣ Xerostomia: boca seca e retração tecidual
A saliva é um tecido líquido protetor — lubrifica, neutraliza ácidos e mantém o pH equilibrado.
Na xerostomia (boca seca), comum em pessoas que usam antidepressivos, fazem atividade física intensa ou têm doenças autoimunes, a gengiva fica menos hidratada e mais suscetível à retração e inflamação.
Pesquisas (Dawes et al., Caries Res 2015) demonstram que a falta de saliva aumenta a fragilidade dos tecidos moles e acelera a erosão.

7️⃣ O olhar integrado: por que a AIRA investiga a causa, não só o sintoma
Na AIRA, entendemos a recessão gengival como um sinal de comunicação do corpo.
Mais do que corrigir a retração, buscamos compreender o motivo:

• É emocional (bruxismo)?
• Digestivo (refluxo)?
• Mecânico (escovação)?
• Sistêmico/Medicamentos (perda óssea, boca seca)?

A partir dessa análise, o tratamento é personalizado: controle do bruxismo, terapia periodontal, orientação de escovação, hidratação salivar e, quando necessário, reposição tecidual com técnicas minimamente invasivas.

Conclusão
A gengiva é como a moldura do sorriso — mas também um termômetro da saúde.
Se ela está recuando, é sinal de que algo em seu corpo precisa de equilíbrio.
Cuidar da gengiva é cuidar do sistema nervoso, do estômago e dos ossos que sustentam o sorriso.

🩺 AIRA | Saúde começa pela boca — e a saúde gengival é um importante sinalizador.